Acredito que algumas pessoas que aqui costumam passar que me vejam como uma pessoa sensível, que gosta do bem-estar dos outros (do meu também) e que muitas das vezes não tem coragem de dizer a verdade para não magoar. Sim, eu sou assim.
Ontem aconteceu algo que me fez pensar se deveria dizer a verdade.
Fui convidada para ir almoçar a casa dos meus velhotes. Devo dizer que estão muito perto dos 80 anos, mas bem conservados. Bem, o convite foi feito à minha filhota e eu fiz-me convidada, coisa que ele adoraram. Com os meus horários de trabalho nem sempre é fácil passar por casa deles. Felizmente o velhote ainda conduz e aparecem cá em casa com frequência.
Continuado a história do almoço, o menu era sardinhas, coisa que tanto a filhota como eu adoramos. Quando chegamos estava tudo prontinho para começar a assar e como boa filha ajudei nessa tarefa. As sardinhas eram gordinhas e com aspeto maravilhoso que me faziam salivar enquanto as assava. A minha mãe tinha-me dito que a senhora da peixaria lhe tinha ensinado um truque para retirar as escamas e que tinha experimentado. Deixou-as em água de um dia para o outro e as camas saíram com facilidade. Fiquei de pé atrás e pensativa se o sabor das sardinhas não alterava com tanto banho. Disse-lhe que quando as comprava chegava a casa, colocava-lhe sal e iam a assar.
Já na mesa e já a salivar coloco a primeira garfada na boca e desiludo-me. Não tinham sal…nenhum. Fiquei sem saber se a falta daquele gosto maravilhoso se devia à falta de sal ou se o tal banho tinha ajudado aquele resultado desastroso.
Perguntei-lhe" colocaste sal nas sardinhas?"
"Coloquei, mas porquê não está bom?"
Não sabia se deveria dizer a verdade ou se omitia que estavam horríveis. Optei por dizer "Não estão más, mas precisava um bocadinho mais de sal".
Tenho a certeza que não levaram uma pitada de sal (como não observei esse pormenor quando as estava assar?). Não sei se por esquecimento ou se por opção. Devo dizer que a minha mãe nunca foi uma cozinheira maravilhosa, embora haja pratos de que tenho saudades.
Acabei por comer apenas duas e com muito esforço. A desculpa foi " fiz noite e como ainda não dormi, não tenho muita fome".
Já no carro, a filhota e eu falamos do desastre culinários. Na opinião dela eu devia-lhe ter dito que estavam horríveis e que não lhe tinha posto sal. Expliquei-lhe o porquê de não o ter feito. Como poderia estragar-lhe a alegria de ter a filha e a neta a almoçar com eles? Tanto mais que a verdade não ia tornar as sardinhas mais saborosas. Valeria a pena deixa-la triste?
Ela dizia-me "para a próxima vai acontecer o mesmo, tudo porque não tiveste a coragem de lhe dizer".
Para a próxima já tenho alternativa, vou mais cedo e sou eu que as tempero.
Quando maridão chegou a casa e me pergunta se as sardinhas estavam boas eu respondo-lhe "ai, tu nem me fales em sardinhas nos próximos meses".
Depois de lhe contar deu-me a mesma opinião que deu a filhota.
Será que afinal estou errada?
Aguardo opiniões.
Hoje em conversa com uma amiga falávamos de filhos, de como não é fácil ser-se pais, de como "controlar" os filhos e que quantidade de liberdade se deveria dar.
Esta conversa trouxe-me à memória duas situações: algumas discussões que tive com o meu ex. marido eram relacionadas com a "muita liberdade" que eu dava à nossa filha e um triste acontecimento relacionado com a falta de liberdade que dava à enteada.
Se antes do divórcio as nossas discussões eram diárias e muitas vezes relacionadas com a nossa filha, claro que depois do divórcio as discussões, ou melhor os nossos pontos de vista não se alteraram. Felizmente que depois do divorcio conseguíamos ter conversas cordiais e civilizadas, embora os pontos de vista fossem completamente opostos.
Sempre tive a convicção de que fazia pior não ter NENHUMA liberdade do que ter demasiado.
Quando nos divorciamos a filhota tinha cerca de 7 anos e fui-lhe dando a liberdade consoante via que a podia dar e que a merecia. Sempre tivemos muita ligação, talvez o autoritarismo do pai tenha facilitado esta forte ligação. Com cerca de 15 anos começou a pedir para sair com as amigas à noite. Na altura eu já tinha refeito a minha vida com outra pessoa e claro que conversámos sobre estas saídas. Tivemos a mesma opinião e não víamos problema em de vez em quando ela sair com as amigas, ainda mais sendo o local escolhido, o sítio que eu e o meu marido frequentávamos. Não andava "em cima “dela, mas por vezes "deitava o olho". Depois veio a fase das discotecas. Estas saídas deixavam-me mais com o coração apertadinho, mas ela estava a crescer e eu continuava a confiar nela e nunca tinha tido problemas. E uma das coisas que também me tranquilizava era o diálogo, tanto comigo como com o meu marido não havia problemas de falar fosse do que fosse. Nestas saídas umas vezes eu ia leva-la com as amigas, outras eram os outros pais. Claro que havia hora de chegar...mais coisa menos coisa.
O pai era completamente contra estas saídas e eu era uma irresponsável que não sabia dar-lhe educação e mais, chegou a dizer-me que o dever de um pai é dificultar ao máximo a vida aos filhos para que eles soubessem que a vida não era fácil.
Ora aqui a "Je" não concordava nada e dizia-lhe "Eu dou-lhe a liberdade que ela merece e quando lhe aparecerem as dificuldades da vida ela irá certamente saber lidar com elas e se não souber estarei aqui para a ajudar".
Algumas vezes, ele dava-me exemplos de como educava a enteada (cerca de 1 ano mais nova que a minha filha), achando ele que mudaria de opinião e em vez disso arrepiava-me com alguns desses exemplos.
Por vezes cá em casa comentávamos essa tal educação, rígida e exagerada e a opinião de nós os 3 era que um dia a miúda faria um disparate.
Infelizmente assim foi...saiu de casa logo a seguir a fazer 18 anos e durante várias semanas não souberam dela.
Eu muitas vezes deitava-me na minha cama e em vez de dormir pensava na miúda (sou mãe!), onde estaria, como estaria, se tinha comida, se tinha frio...
Não fiquei feliz com esta situação, até poderia pois, tanta vez lhe disse que não dar liberdade era muito pior do que dar, mas não faz parte de mim ficar feliz com as desgraças dos outros.
Gostaria de dizer que esta infeliz história serviu para melhorar a relação dele com a nossa filha, que serviu para ele ter orgulho na nossa filha e que serviu para admitir que eu até à data dei a melhor educação à nossa filha, mas infelizmente...tudo na mesma.
Ser pais não é fácil e não trás instruções, mas rigidez a mais não faz bem.
Por este andar vou ficar igualzinha aos meus pais e nada me admira que passe a gostar de tomar medicação…muita medicação.
Tanta vez que eu dizia aos meus pais " mas não saem do médico?", ou então não entendia como ficavam satisfeitos quando o médico receitava mais um medicamente.
As vezes, que eu ralhei por não irem fazer determinado passeio por terem consultas marcadas.
Então não é que aqui a menina está com a agenda quase tão preenchida como a deles?
Há umas semanas, se bem se lembram era fisioterapia todos os dias devido à queda que dei no Lar, depois acabei por ter de ir às urgências por ter a tensão muito elevada, hoje fui à médica fazer uma citologia e amanhã tenho consulta de dermatologia no hospital.
A única diferença é que os meus pais adoram tomar medicação e ir às consultas e eu odeio, ainda.