Não me recordo a primeira vez que o coração disparou, mas já
foi há muitos anos e de todas as vezes que me recordo, aconteceu sempre quando
faço o movimento para me baixar.
E também me recordo de que todas as vezes estava calma, sem
stress e sem ansiedade. Algumas vezes desaparece tão rapidamente como aparece e
por isso mesmo não costumo dar grande importância. Isto até há uns 6 anos atrás
em que o episódio durou mais de 3 horas e fui obrigada a ir ao hospital,
obrigada pelo meu marido, claro.
Nessa altura é que tive a noção que corria risco de vida,
pois os batimentos cardíacos estavam a 190. Sentia um cansaço terrível...pudera
a máquina estava a trabalhar feita louca.
Sai de lá medicada e com indicação para ir ao meu médico de
família fazer exames.
Fiz tudo, Ecocardiograma, prova de esforço,
electrocardiograma, holter e nada de se descobrir o que se passava.
Durante uns meses ainda tomei a medicação para ajudar a
trabalhar o coração de uma forma regular, depois claro sentia-me bem e aqui
menina deixou de os tomar.
Embora por vezes sentisse que o coração não trabalhava de
forma regular, não voltou a disparar, ou quando disparava voltava rapidamente
ao normal...até ontem.
Eu só pensava" Isto vai passar e se não passar depois
de acabar as higienes e dar o pequeno-almoço vou às urgência”. Pois estava
erradíssima, além de não abrandar ainda acelerou mais. Coitado do Sr. M. olhava
para mim e via que eu não estava bem.
Quando a minha colega
veio dar-me um recado eu disse-lhe que não me estava a sentir bem. Mandou-me
logo deitar-me com as pernas elevadas. Ainda reclamei, mas acabei por" dar
a mão à palmatória". Tentei medir a tensão e nada de conseguir, achando eu
que seria do aparelho.
Mas estar deitada e ouvir a D. O. tocar à campainha e a
chamar" Oh meniiinas, meniiinas!" estava a dar comigo em doida.
Deu-me uma crise de choro de tal forma que soluçava sem
parar... Não podia pensar que as tinha de deixar sozinhas a trabalhar, quando
naquele dia em especial duas mãos faziam muita falta.
A minha colega queria chamar o meu marido, mas eu não deixei
e disse-lhe que ia eu a conduzir.
- Estás maluca ou o quê? A conduzir sozinha?
Eu não as queria prejudicar ainda mais ao irem-me levar e
quanto mais me lembrava mais chorava e mais o coração batia.
Quando passei na sala de refeição vários idosos já lá
estavam e claro ficaram aflitos quando me viram naquele estado.
Fui agarrada pela cozinheira e foi ela que me levou, mesmo
contra a minha vontade.
Segundo ela eu era mais importante que o peru que ainda
tinha de ir ao forno.
Teve que me prometer que me deixaria lá e que iria embora e
eu prometi que depois daria noticias.
Depois de explicar ao medico o que sentia, a custo pois o
choro era mais que muito foi-me medir a tensão e nada, tentou, tentou e nada
(afinal a maquina da Instituição não estava avariada).
Toca a ver a glicemia depois foi colocado o soro com
medicação e 2 comprimidos por baixo da língua, passado alguns minutos voltou a
medir e lembro-me de ver assim de relance, 18 e os batimento 200 e tal.
De início ainda me lembrava do trabalho que tinha deixado na
Instituição e da preparação para o jantar de Natal para os meus pais e para o
meu sogro, mas depois a preocupação passou a ser o meu estado. Estava assustada
e relembrei aquela injecção que me tinham dado da última vez que tinha vivido a
mesma situação. Foi assustador pois quando ma administraram achei que ia morrer
naquele momento. Senti o coração a apertar de tal maneira que achei que era o
fim. Afinal a finalidade era parar o coração para ele voltar a trabalhar
normalmente. Felizmente desta vez apesar de estar muito mais acelerado não foi
necessário aquela terrível injecção.
Depois de 3 frascos de medicação e ainda mais um comprimido
lá me deram alta, isto apesar do coraçãozito ainda bater 89.
Antes de sair o médico disse-me:
-Tem esta medicação para fazer durante dois meses e vai à
sua médica para ela passar exames específicos e agora vai para casa
descansar...
-Oh Doutor nem pense nisso, eu tenho de ir trabalhar...
-Trabalhar? Mas acha que está em condições para andar a
agarrar os velhos?
-Eu prometo que não vou fazer esforços, apenas vou ajudar a
dar o almoço e depois vou embora.
Sentia-me muito cansada e o peito doía tal era o esforço que
o coração tinha feito, mas jamais conseguia ir para casa e saber que que a
minha ajuda ia fazer alguma diferença (ainda que pouca).
Ajudei a dar o almoço, levantei as mesas, almocei com as
colegas e claro que só telefonei ao maridão quando já estava a almoçar.
Pois...como seria de esperar levei um ralhete, primeiro
porque devia ter telefonado para ir ter comigo às urgências, depois devia ter
ido para casa.
Felizmente com a ajuda do marido e da filha tudo foi feito e
tudo correu bem.
Quanto a mim, sinto-me um bocadito "drogadita",
mas agora é para fazer tudo certinho e direitinho, pois não estou com vontade
de sair deste mundo!
Ah, e claro já hoje
fui trabalhar...felizmente os velhotes portaram-se bem e deram uma noite
tranquila.