Tenho andado para escrever sobre este assunto http://www.tvi24.iol.pt/videos/video/13760598/1 mas o relógio não pára e ia ficando adiado...hoje é o dia de falar sobre o assunto.
Alguns de vós sabem que trabalho num Lar e também sabem que é um trabalho de que gosto.
Ora vamos ao tema que realmente interessa. Não posso dizer que não fiquei chocada quando vi a reportagem e claro que condeno quaisquer maus tractos mas vou-me focar-me em alguns pontos que considero importantes. A família, o cumprimento das leis e a ilegalidade.
Para mim e neste caso, ou casos como estes não me interessa se são ilegais ou não, desde que tratem os utentes com dignidade e respeito (claro que a fuga aos impostos faz com que sobre para quem cumpre, mas...). Acredito e conheço através de algumas pessoas (ex. trabalhadoras e trabalhadoras) haver Lares ilegais que tratam melhor os idosos do que alguns legais.
Acredito que o facto de haver tantas exigências para a abertura de Lares faça com que cada vez haja mais ilegais e claro com alguns preços que praticam nalguns Lares particulares legais levam as famílias a procurarem os ilegais.
Do conhecimento que tenho e que fique claro que não me refiro ao que estou a trabalhar que felizmente é uma misericórdia, é muito diferente pagar 600 € num ilegal ou pagar 900 ou mil e tal. Aliás fará, certamente toda a diferença para o orçamento familiar.
Não estou a dizer que apoio os lares ilegais e a colocação dos idosos neles, apenas que compreendo que façam essas opções.
Agora em relação ao cumprimento da lei. É normal haver uma ordem de fecho e ninguém ir averiguar se essa ordem foi cumprida?
É normal passar 6 meses até fazer cumprir a ordem?
Ah, e se não fosse a reportagem o Lar continuaria aberto e os maus tractos continuariam.
Portanto nesta parte alguém deveria ser responsabilizado.
Quanto às famílias...bem...terei de ser dura.
Creio que a primeira coisa quando se escolhe um Lar e antes de colocar o utente, a família tem a obrigação de saber informações. Através de vizinhos do lar, familiares de outros utentes, etc. Claro, que aqui poderá haver informações incorrectas, informações maldosas, mas se elas forem semelhantes são capazes de serem acertadas.
Depois da entrada a família tem a obrigação de ela própria avaliar. Não é difícil ver alguns sinais, claro que estou a falar de pessoas minimamente lúcidas. Os familiares devem ouvir os seus idosos e retirar conclusões, ainda muitas vezes não falem verdade.
Esta semana aconteceu-me algo que me deixou triste. Uma das utentes disse a uma familiar que não lhe ligávamos nenhuma, que a tinham levantado sem fralda e que estava sempre sozinha. Ora isto não corresponde à verdade e é duro de ouvir, mas ainda assim o familiar tem o dever de se certificar que isto não é verdade.
Todos os Lares têm horário para as visitas, mas não creio que se a pessoa aparecer de surpresa e com alguma justificação (ainda que possa ser inventada) não a deixem entrar.
Em relação à reportagem e no meu ver os familiares deviam de ser também responsabilizados (Como não vi toda a reportagem deverei dizer "alguns").
Como é que é possível umas das entrevistadas e familiar dizer que já sabia de algumas coisas e que uma das funcionarias que se tinha despedido lhe tinha telefonado a dar-lhe conhecimento do que se passava. E o mais grave...dois meses antes.
Então deixou passar dois meses sem fazer nada?
Sem saber a verdade?
É por estas situações que dizem que os Lares são depósitos de velhos. Infelizmente tenho que concordar que alguns são e alguns são devido aos familiares não querem saber dos seus idosos.
No Lar onde trabalho há utentes que nunca os vi com visitas e outros que as famílias exageram na maneira como querem que os tratem. Não é por pagarem que podem exigir tudo...muitas vezes coisas impossíveis, coisas quem em casa com toda certeza não faziam.
Ainda sobre a reportagem...as funcionárias...onde fica a responsabilidade delas?
Não sei o que dizer...como se consegue viver com o peso da consciência de tratar mal os idosos, ou seja quem for?
Felizmente tenho a sorte de trabalhar num Lar que olha por eles e lhe tenta dar conforto, respeito, carinho e dignidade. Se assim não fosse eu seria uma pessoa muito infeliz.